4 de ago. de 2011

HISTÓRIA DA ARTE PARAIBANA - DÉCADA DE 1980

Chico Pereira, Um dia de sol. Feirinha de Tambaú,
João Pessoa, 1979
No começo da década, as atividades do NAC ganhavam corpo e espaço na mídia nacional. O que se justifica com a presença de artistas seminais da arte contemporânea brasileira – Tunga, Marcelo Nietsche, Cildo Meireles, Anna Maria Maiolino, Paulo Roberto Leal, Paulo Klein, Antonio Dias, entre outros –, para “experimentações” até mesmo inéditas em outras capitais nordestinas. No NAC, também aconteceram ações de artistas locais, como Um dia de sol, intervenção urbana de Chico Pereira, e, Cenografia e adereços da donzela Joana, de Breno Mattos. Em 1984, com o fim do programa desenvolvido pelos criadores do NAC, o seu retorno, dois anos depois, em nada correspondia ao vanguardismo inicial proposto.

Abertura da I Arte atual paraibana. Funesc,
João Pessoa, 1988
Apesar do marasmo que passou a existir na cidade, entretanto, duas notícias vislumbravam novo tempo: a criação de uma associação de artistas plásticos e a construção, no Governo Burity, do Espaço Cultural José Lins do Rêgo, projeto de Sérgio Bernardes e inaugurado em 1983, no bairro de Tambauzinho. Ali se instalava a Fundação Espaço Cultural da Paraíba- Funesc, cujo setor de artes plásticas – sob a orientação dos artistas Hermano José, Régis Cavalcanti e, depois, Arthur Cantalice – foi um dos primeiros a desenvolver suas atividades com a oferta de cursos livres e a realização de mostras de novos artistas. Archidy Picado, Unhandeijara Lisboa, Dyógenes Chaves, Fred Svendsen, Chico Ferreira, Chico Dantas e Alcides Ferreira, eram alguns dos professores. Logo após abrigar a gigantesca mostra de arte neo-expressionista alemã [Momentaufnen, 1987], seguida de workshops entre brasileiros e alemães, a Funesc organizou, por solicitação da classe artística e empenho direto do governador Tarcísio Burity, duas grandes mostras – Arte atual paraibana, I e II – em que se apresentava um panorama da arte local produzida naquele momento. Em 1987 a UFPB cria a sua Pinacoteca, em um espaço provisório na Biblioteca Central, “com obras de artistas que atuaram como professores do Departamento Cultural nos anos sessenta e que tiveram importante papel na formação de uma geração que vai emergir neste mesmo período e nas gerações subseqüentes”, como relata a professora Rosires Andrade, ex-diretora da Pinacoteca.

Rodolfo Athayde,
Alice Vinagre,
Dieter Ruckhaberle e
Maria Helena Magalhães.
Workshop Brasil-Alemanha, 1990
Fazendo uma análise sobre a tradição da pintura na Pinacoteca da UFPB, afirma Rosires: “A produção artística, nas primeiras décadas, esteve mais ligada à figuração mais próxima da Escola Pernambucana, a um repertório regional no sentido do apego às tradições e ao imaginário popular nordestino, presentes de maneira exemplar, na obra de João Câmara, Roberto Lúcio, Miguel dos Santos e Flávio Tavares. Por outro lado, nota-se a reação de um grupo de artistas liderados por Raul Córdula, em que a figuração cede lugar a uma expressão em que os elementos visuais, cores e formas são o tema e o assunto.” (...)


Governador Tarcísio Burity

“A corrente figurativa tem continuidade nas décadas seguintes através de uma diversidade de propostas embasadas no expressionismo, representadas pela produção dos artistas: Alice Vinagre, apresentando uma visão ontológica do homem mergulhado nas contradições do mundo atual; Chico Dantas, revelando uma obsessão pela anatomia humana apresentando de maneira velada a nebulosidade do ser contemporâneo; Fred Svendsen, compondo figuras bestiais de um mundo taciturno; José Crisólogo, mostrando o imaginário do povo sertanejo na sua força para vencer as adversidades; e Sérgio Lucena, reiterando uma face mascarada e espectral do imaginário, povoado de figuras sinistras.”

Alice Vinagre,
S/T, acrílica sobre tela,
120x90cm,
1989. Acervo UFPB
O professor Gabriel Bechara, na apresentação do catálogo da mostra I Arte atual paraibana (Funesc, 1988), também analisa o embate entre figuração-abstração na Paraíba: “Se a figura era ainda a dominante na pintura no Nordeste, mesmo que longe de padrões acadêmicos e rica em descobertas, havia, porém, a resistência de alguns que se opunham a ela na Paraíba, como Raul Córdula e Chico Pereira. A estes últimos juntaram-se depois Rodolfo Athayde e Cláudio Santa Cruz que formam hoje um grupo mais comprometido com a arte não-figurativa. Roberto Lúcio, artista paraibano radicado no Recife, aos poucos abandona a figuração, detendo-se numa pesquisa sutil de formas e gradações cromáticas que ainda se reportam à paisagem. O final dos anos setenta viu surgir também uma nova pintura representativa, menos comprometida com o regional e seu imaginário e mais voltada para o grotesco, malgrado a diversidade dos artistas. Chico Dantas, Chico Ferreira, Fred Svendsen e Lacet são exemplos deste novo expressionismo ao qual se juntariam depois Alice Vinagre, e mais recentemente, Wagner, Roró de Sá e Sérgio Lucena.” (BECHARA FILHO, 1988)


Alberto Lacet,
Um outro Políbio,
óleo sobre tela, 90x70cm,
1987. Acervo Funesc
Dentre as galerias de arte surgidas neste período, em João Pessoa, destaca-se a Galeria Gamela, de Roseli e Altemir Garcia, no centro da cidade [rua Almirante Barroso, nº 144], que desde 1980 tem se consolidado no comércio de obras de artistas já consagrados e/ou de novos talentos locais. Em maio de 1985 é inaugurada a Galeria Archidy Picado, nas dependências da Funesc, em homenagem a este artista falecido no início do ano. Como galeria oficial, tem objetivos de apoiar os novos artistas e as tendências menos comerciais. No começo da década a arquiteta, Madalena Zaccara, criou a MZ Artearquitetura (manteve-se até 1982), onde realizou mostras dos artistas Rubens Gerchman e Claudio Tozzi (em contatos estabelecidos através do NAC), Maurício Arraes, Raul Córdula, Flávio Tavares, José Lucena e sua filha Letícia, Tota e seu filho Temílson Régis. Outros espaços ainda funcionavam na cidade: o Hall da Biblioteca Central da UFPB, dedicada a alunos e professores do curso de Educação Artística e, no Theatro Santa Roza, a Galeria José Américo de Almeida (criada anteriormente com o nome de Galeria Tomás Santa Rosa), que, sob a direção do artista Hermano José, realizou o Salão A presença do mar nas artes plásticas; e, a Galeria Visual, do artista campinense Antonio Rocha.



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